quarta-feira, 6 de abril de 2011

E-Fólio A



E-Fólio A

1. Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, 9 de Agosto de 1986 – Genebra, 16 de Setembro de 1980) foi um epistemólogo suíço. Era filho de Arthur Piaget, professor de Literatura Medieval na Universidade de Neuchâtel, e de Rebecca Jackson. Em 1923, casou com Valentine Châtenay, com quem teve três filhas. Estudou Ciências Naturais em Neuchâtel e frequentou a Universidade de Zurique, onde contactou com a Psicanálise. Foi professor nas Universidades de Genebra, Lausanne e Paris. Considerado o psicólogo do desenvolvimento de referência do século XX, deixou uma vasta obra, composta por mais de cinquenta livros e algumas centenas de artigos.


Piaget “revolucionou as concepções de inteligência e do conhecimento cognitivo” (tavares et al, 2007: 37), com os seus estudos epistemológicos, no domínio do desenvolvimento intelectual e da aprendizagem. Rejeita as concepções behavioristas do início do século XX, segundo as quais, unicamente o comportamento observável e verificável pode ser objecto de estudo. Os behavioristas encaram o indivíduo como mero produto do meio e da educação, variando o seu comportamento, apenas em função de estímulos exteriores, igualmente observáveis. Para Piaget, o desenvolvimento intelectual não depende exclusivamente da influência do meio, mas sim da complementaridade entre factores exógenos e endógenos, da interacção entre as estruturas mentais e o meio – interaccionismo.


O objectivo primordial de Piaget consistia em compreender a estrutura do conhecimento e a forma como o indivíduo processa as informações que recebe – estruturalismo. Estabelece um período crucial para as “grandes aquisições mentais” (2007:38), que vai da infância à adolescência.


A criança quando nasce é portadora de um património genético que faz dela um indivíduo singular. Segundo Piaget, é esse património genético que lhe possibilita interagir com o meio e organizar, internamente, as experiências que vivencia no seu quotidiano, adquirindo a capacidade de transformar o que aprende em conhecimento construtivo, tornando-se criadora e transformadora da aprendizagem – construtivismo.


Para a dinâmica construtiva do processo mental, concorrem mecanismos mentais de adaptação, como a assimilação e a acomodação. A assimilação acontece, ao serem incorporados nos esquemas mentais do organismo os dados fornecidos pelo meio. Quando os esquemas mentais já existentes não conseguem fazer a assimilação de uma dada situação e se impõe a necessidade de o indivíduo se submeter às exigências externas, através, por exemplo, da alteração do seu modo de pensar, estamos na presença do processo de acomodação.


Face à necessidade de se encontrar “um equilíbrio entre o meio ambiente e as estruturas mentais” (2007:38), ocorre um processo cognitivo gerador de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação – equilibração. Dado que o desenvolvimento cognitivo é um processo de sucessivas mudanças das estruturas cognitivas, este mecanismo equilibrador é o que permite ao sujeito alcançar estágios de desenvolvimento e pensamento progressivamente mais complexos, capacitando-o para superar os conflitos entre a realidade e a sua percepção da mesma. Note-se que Piaget observou que o indivíduo só progride satisfatoriamente de um estágio para o seguinte se tiver adquirido as competências do período anterior.


Para melhor compreendermos a relevância da teoria cognitiva do desenvolvimento de Piaget, atente-se em Lev Vygotski (1896-1934) que apresenta, igualmente, uma perspectiva cognitiva e considera que o conhecimento é uma construção individual. Distingue-se de Piaget, ao preconizar que o desenvolvimento intelectual depende dos factores sociais e culturais. Na perspectiva vygotskiana, a criança constrói o seu conhecimento a partir dos modelos que lhe são socialmente oferecidos, atribuindo-se ao adulto/professor o papel de instrutor e organizador desse conhecimento. Vygotski coloca, pois, a ênfase na aprendizagem, como propulsora do desenvolvimento cognitivo, enquanto Piaget vê a criança como o agente da transformação, capaz de – a partir do que lhe é apresentado – inventar e construir conhecimento, mais do que simplesmente recriar modelos.
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Referências Bibliográficas
TAVARES, J. et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto, Porto Editora.
GLEITMAN, Henry. (2002). Psicologia. 5ªed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian (pp. 678-712).
Quem é Jean Piaget? – consulta a 2011/04/03, em
Jean Piaget, in Wikipédia, A enciclopédia livre – consulta a 2011/04/03, em
John Locke, in Wikipédia, A enciclopédia livre – consulta a 2011/04/03, em
Textos disponibilizados na Plataforma:
Texto 2 – A Natureza do Desenvolvimento Humano (2011) – Adaptado de vários autores e obras.


2. “A construção de um mundo melhor passa por um melhor desenvolvimento das pessoas.” (Young (1990) apud Texto 1, 2011: 6). Esta afirmação podia servir de mote a uma sessão sobre a importância da psicologia do desenvolvimento na educação.
 
PLANO DA SESSÃO DE FORMAÇÃO
Tema
“A construção de um mundo melhor passa por um melhor desenvolvimento das pessoas.”
Destinatários
Destinado especificamente a docentes na área da psicologia, psicólogos escolares, assistentes sociais, entre outros profissionais a desempenhar funções na área da educação.
Duração
6 Horas.
Objectivos
Sensibilizar os destinatários para a importância da psicologia do desenvolvimento na educação, promovendo a sua introdução nos planos curriculares – sempre que as circunstâncias o justifiquem – e a sua ampla utilização na resolução de problemáticas pessoais e sociais em contexto educativo.
Recursos e metodologias
Uma apresentação Power Point, com recurso a imagens e texto sobre as ideias mais relevantes, complementa a comunicação oral e síncrona. Os formandos devem partilhar experiências do âmbito do desenvolvimento humano vivenciadas em contexto profissional. A fim de tornar a sessão mais dinâmica e atractiva, propõe-se o visionamento de um pequeno filme ilustrativo da temática abordada, seguido de um debate sobre o mesmo.


A Psicologia do Desenvolvimento dedica-se ao estudo científico do desenvolvimento humano. Os investigadores desta área da Psicologia procuram compreender a evolução do indivíduo do ponto de vista psicológico e biológico, observando a interacção entre este e o meio, isto é, na presença de “factores inatos e adquiridos (…), numa perspectiva interacionista e construtivista” (tavares et al, 2007: 35). Nos últimos cem anos, foram desenvolvidas várias teorias, sendo as mais relevantes as teorias psicanalíticas, o behaviorismo, o cognitivismo e o humanismo. Embora possuam objecto e metodologias específicas, do conjunto das suas abordagens extrai-se uma concepção fundamental: o indivíduo é uma unidade biopsicossocial.


Por outro lado, sabe-se que o processo de desenvolvimento do ser humano não se esgota no limiar da idade adulta. “Inicialmente, o desenvolvimento humano focalizou-se no estudo da infância e da adolescência. Posteriormente, Erikson surge como pioneiro a apresentar a evolução humana segundo estádios ao longo de toda a vida” (tavares et al, 2007: 34). Desde o momento da concepção até à morte, o indivíduo, influenciado por circunstâncias históricas, socioculturais e as inerentes ao seu percurso de vida, está sujeito a transformações biológicas, cognitivas e sociais. Jamais é um ser acabado – característica que, maravilhosamente, o distingue de todas as outras espécies animais. Esta nova visão sobre o desenvolvimento humano está relacionada com o reconhecimento recente da utilidade da aprendizagem ao longo de todo o ciclo de vida – um dos grandes desafios propostos para o século XXI. Trata-se de uma realidade que implica metodologias e posturas pedagógicas de alcance prospectivo, dado que o homem é esse ser em permanente evolução e capaz de se projectar no futuro. Por seu turno, actualmente, a sociedade e o mundo são marcados por constantes e vertiginosas transformações. Ou seja, hoje, mais do que educar/ensinar uma criança ou um adolescente para que ele atinja um determinado patamar do conhecimento, torna-se fundamental e prioritário muni-lo das ferramentas que o ajudem a conduzir-se, com o máximo de proficiência, no seio da mudança, da diversidade e, essencialmente, da adversidade. Para isso ela tem que formar uma estrutura harmoniosa em que interagem simultaneamente os aspectos cognitivos, afectivos e sociais.


A escola – não a escola de há décadas, precursora do paradigma racional educativo e das abordagens meramente instrutivas e mecanicistas, que voltava as costas à individualidade – deve procurar aplicar os conhecimentos que a psicologia do desenvolvimento está apta a fornecer, promovendo um olhar interessado e zeloso sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes, em todas as dimensões que o integram – biológicas, cognitivas, afectivas ou sociais. A diversidade sociocultural que integra o ambiente escolar, associada às profundas transformações sociais e familiares que se verificam, requer docentes e psicopedagogos cada vez mais preocupados com as questões do desenvolvimento e da aprendizagem; mais atentos à singularidade e à pluralidade de “eus” que partilha o espaço escolar; mais preparados e, consequentemente, motivados para apoiar os que manifestam dificuldades de aprendizagem e necessidades especiais. Um psicopedagogo está apto a intervir de forma preventiva, identificando possíveis factores de perturbação no processo de aprendizagem individual, bem como na própria dinâmica relacional da comunidade educativa. Como terapeuta, o seu trabalho consiste em elaborar diagnósticos e intervir em cada situação específica, com o objectivo de facilitar o processo de aprendizagem, quer do ponto de vista cognitivo, quer emocional. Actuando também como mediador e em parceria com todos os intervenientes no processo educativo, nomeadamente a família, a sua acção deve visar uma perfeita integração escolar e social da criança/jovem. Em suma, os agentes educativos em geral, munidos dos conhecimentos científicos e das metodologias necessárias, estão aptos a contribuir para o bem-estar pessoal e social, numa perspectiva de desenvolvimento do ser humano, tão universal quanto possível.
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Referências Bibliográficas
TAVARES, J. et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto, Porto Editora.
Textos disponibilizados na Plataforma:
Texto 1A Natureza do Desenvolvimento Humano (2011) – Adaptado de:
Matta, I. (2001). Psicologia do Desenvolvimento Humano e da Aprendizagem. Lisboa, UAb, (pp.27-31).
Papalia, D., Olds, S., Feldman, R. (2001). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed (pp.38-50)
MOTA, M. (2007) Psicologia do Desenvolvimento: uma perspectiva histórica. in Temas em Psicologia (2005), Vol. 13, nº 2, (pp.105-111)
Texto 2 – A Natureza do Desenvolvimento Humano (2011) – Adaptado de vários autores e obras.